Friday, January 21, 2011

Cobras em Marrakesh

Conheci toda Marrakesh em uma tarde. É um CHOQUE sair do Cairo e chegar aqui. Tudo é diferente: as pessoas, as cores, os sons, as lojas, o trânsito. O problema é que a Medina é SUPER complicada de andar (paguei vários reais pra pessoas me ajudarem a achar o que eu queria rs). O último foi no desespero de achar o albergue agora à noite, paguei 25 dirham - 5 reais - pra um garoto me trazer aqui, detalhe que eu estava a 20 metros do albergue huhahuauhuah).

Viajar é perder dinheiro com taxista... O cara que me trouxe do hotel pra cá me cobrou 150 dirham quando deveria ter cobrado 30 segundo o cara do hotel e depois da estação de trem pra medina o cara me cobrou 50 quando a garota do albergue me disse que era 30 rs. Pelo menos em reais não é muito hehehehe. Tô no abatimento total.

O Marrocos tem uma coisa boa, a comida é MUITO barata. Comi um cuscuz imenso (como se escreve isso!?!?) com frango, tomei 2 coca-colas e um café (além da gorgeta) por 12 reais!

Lembram de uma reportagem da revista Piauí? Da cobra? pois é... estava eu batendo foto quando o cara das cobras (é verdade!!!!) me viu e veio atrás de mim. Eu ia pagar pra ele pela foto quando ele colocou VARIAS cobras em cima de mim. Eu nem sei quantas, só sei que quando aquela coisa gelada tocou o meu pescoço eu só fechei os olhos e fiquei dizendo pra ele "take it, take it", ele tentou bater uma foto, mas não deixei ele pegar a camera de tão desesperado!!! rs (logo não há registro do momento mais divertido, "mico" e tenso da viagem até agora). Dei 30 dirham pra ele e saí em estado de choque hhauuahuauhahuau pelo menos não eram najas (têm aos montes na praça!). Acho que foi por isso que decidi ir embora logo rs. De noite foi a vez do cara dos macacos vir me cobrar pela foto, mas como macaco não morde, dei uma de joão sem braço e saí sem pagar (também estava sem dinheiro trocado e aposto que ele não ia me dar troco hehehehe).

A cidade é legal pra caramba (SERIO), mas já vi mercado "árabe" em Istambul, os museus são fraquinhos (além de super complicados de achar) e consegui ver tudo o que queria em uma tarde. Até comprei imas de geladeira (só porque tinha o preço!). A única coisa que ainda teria pra fazer amanhã seria compras, mas a minha mala está muito pesada e certamente vou ver exatamente as mesmas coisas que aqui em Fes. Aí resolvi ir pra Fes amanhã de manhã mesmo. Passo 2 dias no Ibis (NUNCA mais me hospedaria dentro de uma Medida) e depois vejo o que faço. Se antes eu estava com pouco tempo no Marrocos, agora eu acho que vou ver tudo muito rápido e ir de volta pra Espanha mais cedo que pensava.

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Pois é, estou em Fés mas nao gostei muito daqui (Marrakesh era mais bonito, apesar dos pesares). Paguei um guia pra me mostrar a medina, porque é ainda mais complicado do que Marrakesh e nao quero aquilo tudo de novo rs.

Acho que vou logo pra civilização mesmo, cansei de mercados e medinas. Talvez fique aqui mais um dia só pra descansar (tem piscina no hotel rs) e va direto pra Ceuta e de lá pra Espanha e chegue logo em
Portugal. O dinheiro que eu estava disposto a gastar está acabando (nao que eu nao tenha mais ou que isso seja um grande problema, mas realmente prefiro lugares onde o preço de tudo esteja bem claro).

Ah, e ainda comprei um tapete. O pior de barganhar é saber que vc esta pagando caro, mas mesmo assim ficar feliz com a compra rs. Mas eu duvido que comprasse um tapete daquele (que definitivamente não se parece comigo hehehhee) pelo preço que paguei nem no Brasil. Foi uma justa troca, um relógio que eu não precisava (e ia comprar na Espanha), por um tapete que preciso, mas não queria :-)

Gleison, Marrocos, 18/01/2011

Travessia África-Europa via Ceuta

Queria sair logo do Marrocos. Apesar das cores, sons e paisagens, o país muito me irritou. O que adianta ser barato se todo mundo quer te passar a perna? O penúltimo taxi que peguei milagrosamente me cobrou o preço do taxímetro (5,40 dirhan = 1,08 reais), paguei 10 a ele. Quando cheguei a Tetouan é que levei a maior facada. O taxi deveria sair a 20 dirhan segundo o meu guia. Saiu a 300, 200 pro "fiscal" e 100 pro taxista, que obviamente ficou puto quando descobriu (isso num dialogo misto de francês, inglês, portunhol e arabenhol). Eu, otário, fiquei feliz de sair do país (sério, odeio ser ou achar que estou sendo eenganado, ainda mais sistematicamente. Mas 30 euros vale a liberdade rs).

Chegando na fronteira descobri que o taxi nao pode entrar em Ceuta. Até aí, compreensível. Lógico que era uma confusão e tinha um carinha pra vender o papel da imigração, peguei um e dei as moedas que ainda tinha no bolso (2 dirhan), ele nao gostou mas foi tranquilo, ainda quis me ajudar a preencher o papel mas eu passei do ponto onde ele podia ir e fui embora. Detalhe é o peso da mochila: uma com 23 quilos cravados, outra com uns 7 provavelmente.

 Me senti o próprio imigrante ilegal em Tijuana rs. Vários marroquinos querendo passar e os guardas vetando. Sempre fugindo dos marroquinos que vinham tentar falar comigo, tentei passar a fronteira e um guarda espanhol (viva!) me mandou pegar o carimbo. Havia 4 filas, 1 só com mulheres. Deixei essa pra lá e fui pra outra. Veio um marroquino me dizendo que tinha que ir pra fila 4 e nao dei bola. Quando chegou a minha vez, o cara me mandou ir pra fila 4! Lá o cara me fez as perguntas de praxe e carimbou o meu passaporte. Beleza, pensei, estou livre. Passei, então, pelo guardinha espanhol e fui andando. Ninguém mais veio falar comigo, perguntei pra uma guarda onde era o ponto de ônibus, mas acabei pegando um taxi (3,40 euros no taxímetro!!).

A coisa fica divertida na volta. Acordei no dia seguinte, andei pela cidade procurando ima de geladeira e cartão postal, fiz o checkout e peguei um taxi pra ir pegar o barco pra Algeciras. Chegando lá nao havia o de 12h, só às 14h. Comprei assim mesmo pensando que iria perder o trem pra Granada. Enquanto esperava pra trocar o voucher pelo bilhete (qual o sentido de você comprar um voucher, ir pro guiche ao lado e ter que trocar por um bilhete?!? Olha que isso é Espanha e não outro país ibérico!), as pessoas começaram a fazer fila e entrar pro saguão. Só aí me toquei que o fuso horário da Espanha é diferente do de Portugal e do Marrocos! Quase perdi o barco, parte II. A parte I é que, como nao sabia do fuso horário, eu perdi o das 12h de burrice. Sempre confiram o fuso horário ao atravessar uma fronteira!

Finalmente na fila pra entrar, no barco. 13h30min. Me vira o policial espanhol e me pergunta cadê o carimbo. Mostrei pra ele. Aí, momento de tensão (cadê a trilha sonora?): o que eu tinha era a saída do Marrocos, nao a entrada na União Européia! Ele ainda me disse que se eu embarcasse poderia ser preso (fez sinal com a mao, como se fossem algemadas). Depois de verificar que eu nao era imigrante ilegal, só turista desavisado mesmo, mandou (realmente muito gentil!) voltar a fronteira pra pegar o visto e disse que eu podia trocar a passagem depois. Quase perdi o barco, parte III: ilegal na Europa!!! Eu, crente que nao tinha "saído" do Marrocos, nao tinha era entrado na Espanha!

Saí igual a um louco com o passaporte na mao. Acho que isso é comum porque tinha 2 caras do lado de fora já me oferecendo taxi! Pensei que era enrolação marroquina, mas o cara me garantiu que era serio e que só custaria 13 euros. Fui. O motorista era marroquino e nao falava espanhol direito, mas sabia das chuvas no Rio. 13h40 chegamos na fronteira. O guarda demorou 10 minutos pra carimbar meu passaporte (mas com autoridade a gente nao discute, né? Eu só olhava pro relógio o tempo todo). De novo no taxi, o motorista diz que se for rápido dá tempo. Lógico que tinha um motorista lerdo na frente, né? 13h58min - chegamos na estação de barco. Dei 15 euros pro carinha que agradeceu a gorjeta (devia ter dado os 90 dirhan que não consegui trocar em Ceuta e agora são inúteis pra mim) e me disse: agora corre. Sai igual um louco com os 30kg nas costas, furei a fila que ainda estava lá. O guardinha me reconheceu e disse que nao precisava correr porque todos iriam pegar o barco das 14h. Ufa! Só que na fila do raio X vem um funcionário local e diz que o barco das 14h já ia sair! Eu mais 30kg e uma sacola com o café da manhã/almoço (iogurte, chocolate e madalenas) novamente correndo! Quase perdi o barco, parte IV. Mas deu tempo. Consegui atravessar o estreito de Gibraltar como queria!

Pra pegar o trem foi tranquilo, mas também corrido. Tinha uma mulher na frente do taxi fazendo barbeiragem e conversando a 30 por hora, mas consegui comprar o bilhete e embarcar. Senão era ou dormir do lado de fora da estação, alugar um carro ou pegar o único trem que sairia depois pra Ronda (que vou verificar agora no meu guia onde fica!).

Gleison, Estreito de Gibraltar, 21/01/2011

Noite idílica no Nilo - Feluca nunca mais!

Quando o cara do albergue (Mohamed, como quase todo árabe) no Cairo me disse que o passeio incluía uma noite numa Feluca eu nao quis porque ia representar uma dia a mais e, assim, nao ia conseguir conhecer Alexandria. No final, topei porque queria ir com tudo agendado (ia ter menos confusão e nao estava disposto a enfrentar a estação de trem do Cairo sozinho depois de conhecer o metro e andar de taxi!).

O passeio deveria começar às 12h, mas só chegamos no hotel vindo de Abu Simbel às 13h30min (TUDO no Egito atrasa). Fiquei um pouco preocupado quando o guia falou pra gente comprar biscoito, água e... papel higiênico!! Isso não podia ser bom, óbvio, né?

Quando a gente finalmente saiu às 15h (!), pegamos uma caminhonete (as australianas delirando com o transporte incomum/exótico pra elas). 40 minutos pra chegar onde a Feluca estava, e a gente pensando que
iríamos sair do porto de Aswan... Lá já estavam 2 dinamarqueses (uuhhh yeaaahhhh), que tinham passado a noite já e estavam reclamando de ficarem só 2 dias.

O almoço estava pra ser servido: pão, macarrão com molho ralo de tomate, pepino e queijo. A mesa era o "chão" da Feluca, que também era a nossa cama e, logicamente, onde a gente andava e também a aérea comum (alias, a única). A Feluca é tipo uma jangada, com um grande mastro e uma cobertura. O piso estava coberto por várias almofadas, planas. Me recuso a pensar se algum dia já foram lavadas. Nao tem banheiro (pra isso tem a margem do Nilo!) nem cozinha (vocês acham que eu perguntei de onde vinha a água da comida ou se comi o pepino?). Os dinamarqueses fizeram festa pra comida (uuhhh yeaaahhhh) e eu só querendo ir embora dali! Quando a feluca finalmente zarpou, eu achei que pelo menos a paisagem do Nilo (pense numa água límpida!!) valeria à pena (afinal, o por do sol do Egito é ótimo). A navegação se resumiu a 30 minutos indo de uma margem à outra. O dinamarques ficou contente porque o capitao deixou ele no leme uns minutos (uuhhh yeaaahhhh). Depois de andar uns 100 metros, paramos. Eu, na minha santa inocência. perguntei se já íamos jantar (estava escurecendo). Aí veio a melhor parte: a feluca só navega de dia porque à noite é perigoso por causa dos cruzeiros! Deu vontade de perguntar: "Tio, pode descer? Quero brincar mais não...". Nos deram cobertas, pensei em recusar, mas com aquele frio resolvi abstrair de questões ligadas a higiene... O menu do jantar foi, advinhem, o mesmo do almoço (uuhhh yeaaahhhh)! Mas sem o queijo, que era justamente a melhor coisa!

Nas conversas de praxe de turistas "united colors of Benetton", falei com toda a empáfia cínica dissimulada que era um "Software Engineering Professor", nao agüentava a sociologia observacionista de botequim do
dinamarquês rs. Acho que porque eu falei que Copenhague era uma "small town" ele me perguntou como era o Rio comparado com o Cairo. Quase mandei ele ir catar coquinho, mas nao sabia traduzir rs.

Tinha uma outra Feluca parada próxima que acendeu uma fogueira e a gente foi pra lá socializar, nao houve socialização, mas o calor estava bom! Ainda bem que tinha o iPod! Vi vários episódios de Damages (vaca!!!) e dormi (já falei que estava abstraindo de muita coisa, né?).

O café da manha da longa e gelada noite foi o mesmo pão (uuhhh yeaaahhhh), o mesmo queijo (uuhhh yeaaahhhh) e um chá mate quente (uuhhh yeaaahhhh), que eu detesto, servido na nossa mesa. Ah, ninguém avisou pra levar guardanapo... Depois, atravessamos o rio e pegamos uma van em direção a Luxor. Mas antes, claro, que tinha que dar gorjeta. Eu dei 15 libras (2 euros) que era o que eu tinha de moeda no bolso e o cara ficou puto, tive que trocar dinheiro com o motorista da van rs. Acabei dando 50 enquanto o cara esbravejava. Pelo menos estava livre da Feluca, e só teria que agüentar mais um pouco do dinamarquês e seus "uuhhh yeaaahhhh" pra tudo (parecia é que estava fazendo outra coisa hahahaha).

Gleison, margem do Nilo, 13/01/2011

Museu do Cairo

A partir de uma civilização que durou 3000 anos, arranje vários caçadores de relíquias para juntar varias estatuas e pedaços. Para algumas estatuas, peca pra escola do seu filho dar pras crianças remontarem usando barro. Arranje um prédio grande, antigo, com varias salas e sem conservação.  Estando no meio do deserto, deixe as janelas abertas (depois você vai precisar de varias pessoas com pincéis pra tirar a poeira, mas nao ligue se nao der pra limpar grande coisa). Coloque todas as pecas entulhadas, "organizadas". Coloque mais coisa do que é viável em cada sala (são 3000 anos!!), economize na identificação e descrição das coisas. Economize em vidros e faixas de proteção (também nao coloque guardas pras pessoas nao colocarem a mao). Nao forneça mapa nem audioguide. Isso é o museu do Cairo. Você precisa ver, mas é meio como chupar bala com papel. A pedra da Rosetta, Nefertiti e outros, estão mais bem aproveitados em outros lugares, vão me desculpar... Mas, ok, os tesouros da tumba do Tut valem à pena (ps: tinha muita coisa entulhada lá dentro da tumba dele também rs).

Gleison, Cairo, 10/01/2011